Uma vez eu quis ser o melhor.
Achei que podia tudo, que estava acima de todos. Me achei superior.
Nesse sentimento desprezei pessoas, maltratei queridos e despedi afetos. Era tão autossuficiente que não precisava de nada que não viesse de mim mesmo e de minha capacidade de crescer sozinho. Achei que podia tudo. E fiquei sozinho. Se afastaram todos os que tentavam se aproximar. Aqueles que me queriam amigos passaram a me ver estranho. Os que me queriam bem não me reconheceram. Mas ainda assim eu me achava suficiente. Me achava o melhor.
E veio a onda.
Uma onda forte me encobriu, me tirou de onde estava e me reduziu a um corpo flutuante numa água violenta que não tinha qualquer constrangimento em arrasar o que encontrasse pela frente.
No desespero gritei por ajuda. Pedi aos amigos que me socorressem, pois sabia que sozinho não iria me salvar. Precisava que urgentemente alguém me estendesse a mão e me resgatasse, do contrário eu iria morrer.
Só aí lembrei que não tinha amigos. Os perdi todos no alto da arrogância que tomara conta de mim. Eles, que também haviam sido vítimas da mesma onda que eu, se ajudaram uns aos outros e escaparam sãos e salvos.
Mas eu fiquei sozinho, boiando e lutando em vão. Sabia que não poderia desistir, mas tudo me levava a crer no contrário. Ouvia uma voz dizendo que eu iria morrer.
Até que fui jogado à terra. Uma ilha deserta que me serviu de socorro. A água se foi e eu agradeci à força superior que porventura me tivesse salvo.
Olhei a ilha mas ela estava vazia. Nada que me fosse familiar, nem mesmo uma casinha abandonada. E então ouvi uma voz, talvez a voz da força superior que havia me salvado: "você já estava sozinho antes da onda, não terá dificuldades em sobreviver aqui".
E então despertei agitado do sono. Minha esposa que dormia ao meu lado acordou assustada com meu grito. Perguntou o que havia acontecido e eu não respondi, apenas a abracei e disse que a amava. Liguei no meio da madrugada à casa dos meus pais velhos que fazia tempo não os via, e lhes disse que os amava. Liguei para o amigo do trabalho que havia me chamado para o futebol, mas que eu havia rejeitado por me considerar muito superior do que ele e disse que estaria lá às 14:00 pra bater bola. Mais uma vez abracei minha esposa e disse o quanto ela era importante para mim.
Ela apenas me disse: você também é importante para mim. Você é importante pra muita gente, e faz falta na vida de todos nós.
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