Ensaio sobre confiança e autoconfiança | #Reflexão



Você precisa escolher confiar nela. E em você.

Sim, apenas confiar. 

Porque você só tem duas alternativas, cara: ou você confia na pessoa que está com você e entrega a ela a responsabilidade de te respeitar cuidar da sua confiança, ou você surta e dá crises de ciúme feito adolescente inseguro que tenta a todo custo, e sem sucesso, disputar a atenção dela com todas as pessoas que ela conhece. 

Ainda não inventaram um microchip que acompanhe os passos da pessoa amada, que monitore em tempo real as conversas de WhatsApp, as directs do Instagram, as conversas presenciais, o que ela pensa, e te forneça relatórios e gráficos diários de tudo isso com os índices e percentuais de probabilidades de levar um chifre. E mesmo que isso já tivesse sido inventado, essa seria a pior e mais doentia invenção do mundo, pois teria como única finalidade alimentar a neura dos inseguros. 

Sim, ela tem amigos. No masculino, mesmo. Amigos. Homens. Amigos que ela já conhecia antes de você, e com quem ela sempre se deu bem. Ela tem amigos a quem ela considera, de quem ela gosta e quer estar por perto. Amigos que ela vai querer convidar no aniversário dela, ou com quem ela vai compartilhar algum meme bobo e zuar quando o time perder. Ela tem amigos, e já os tinha antes de sequer saber que você existia. 

Sim, ela tem um passado. Ela já teve outros relacionamentos antes de te conhecer e, mesmo que viraram passado, em algum momento eles foram bons, tanto que ela os manteve por algum tempo. Talvez alguns tenham sido bons, e terminaram por algum acontecimento da vida que os separou, talvez algum tenha sido um relacionamento tóxico, que tenha deixado nela marcas doloridas. Como foi cada um desses relacionamentos? Talvez ela te diga um dia, talvez ela guarde com ela pra sempre. 

E sim, esse passado dela inclui já ter ficado com outros caras, já ter beijado outras bocas antes da sua. Alguns talvez próximos dela, com quem ela ainda mantenha contato e ainda seja amiga. Outros talvez foram casos de um dia, ou de uma noite. Alguns do Tinder, outros indicados por alguma amiga. Mas ela já ficou com outros caras antes de você.

Ah, é bom lembrar: ela não é virgem - provavelmente. Isso significa que ela já transou com outros caras antes de você. Outros caras já arrancaram a roupa dela e a viram nua antes, e já acariciaram o corpo dela. Outros já a levaram em moteis, na casa de alguém, ou até mesmo transou no carro de outros caras por aí. Alguns outros caras já deram a ela algum prazer antes de você, por menor que tenha sido. Ela já beijou a boca de outro cara enquanto sentava nele, já chupou outras rolas. Sim, ela já esteve na cama com outros caras. Peguei pesado, né? Eu sei. 

Ela vai contar sobre todo esse passado pra você? Não. E por que não? Simplesmente porque ela não precisa contar nada disso pra você. Ela vai levar tudo isso com ela; talvez alguma amiga muito próxima conheça algumas dessas histórias, mas para você ela não vai contar nada disso. Ela não tem que te contar, e você não precisa saber. Passado é passado.

Assim como ela também não vai te contar com detalhes o que se passa no dia a dia dela. Ela não vai te contar se algum colega do trabalho está a fim dela, ou se o cara com quem ela ficou no ano passado pediu para ficar de novo. Ela não vai te falar se o ex mandar mensagem dizendo que está com saudade. Ela não vai te contar nada disso, sabe por que? Porque ela não precisa. Ela é adulta, dona do próprio nariz, e pode lidar com isso sozinha. Você não é o pai dela para atuar por ela. Nem o pai dela deve fazer isso por ela, quanto mais você.

Você vai ter que lidar com tudo isso. 

Por que maturidade é isso: é saber lidar com a bagagem que a outra pessoa trás junto com ela, e apenas a observar carregar, sem precisar ajudá-la a levar, nem muito menos querer abrir para ver o que há lá dentro. A bagagem é dela. Ela vai levar com ela para sempre. Se ela quiser abrir e mostrar para você alguma coisa do que há lá dentro, ótimo. Se ela não quiser, é uma opção dela. E você não pode fazer nada a não ser respeitar essa opção dela. Contente-se em não estar dentro da mala e não ser apenas mais um item da bagagem. 

Vivemos em uma sociedade altamente machista, onde se espera que o homem assuma o papel de controlador da relação, de "homem", de "macho alfa", sob o risco de ser taxado de "frouxo", de "corno" e outros adjetivos horríveis e completamente carregados de um preconceito pesadíssimo. Porém pense de forma muito sincera: é esse papel que você quer exercer? De verdade? Porque esse papel não é nada saudável para ela, muito menos para você. Além de gerar uma ansiedade absurda em você, pode gerar nela um sufocamento que a vai fazer querer - adivinha o que? - buscar coisas novas por aí. E aí você descobre que sua desconfiança é exatamente o gatilho que a faz querer conhecer gente diferente de você.

Entenda o seguinte: você é o momento atual dela, e isso basta para você. Ela deve ter algum ex querendo voltar, e algum amigo pedindo para ficar, mas é com você que ela está. Ela abriu mão dos outros para estar ao seu lado. É a sua boca que ela beija agora. É com você que ela transa. É para você que ela manda mensagens fofinhas dizendo "eu te amo". É com você que ela planeja fazer coisas legais. É as fotos com você que ela posta com legendas românticas. Aprecie isso. Viva o seu momento atual, e o momento atual dela. Se você souber viver o presente e ignorar o passado, provavelmente vocês terão um futuro. 

Correndo o risco de ser repetitivo, você não tem outra escolha a não ser confiar nela. 

"Ah, mas corro o risco de quebrar a cara". Pra não correr esse risco, só estando sozinho. O InMetro ainda não criou nenhuma certificação que diga ser as pessoas são confiáveis ou não. Não existe nenhum ISO que meça isso. Pra descobrir, só se relacionando. E sim, há o risco de ela não respeitar a sua confiança; há o risco de ela ficar com alguém mesmo dizendo que te ama. Há o risco de ela querer matar a saudade de algum ex, enquanto você posta fotos com ela nas suas redes sociais. Mas essa é uma responsabilidade dela. Isso diz muito mais sobre ela e sobre o caráter dela do que sobre você. 

"E se isso acontecer?" Saia fora. Simples assim. Sem escândalo, sem tirar satisfação, sem matar a menina - pelo amor de Jeová. Apenas saia fora. Se ela não soube lidar com sua confiança, outra saberá. Nem toda mulher é filha da puta, assim como nem todo homem é imprestável.

Você não é dono dela. Você não é dono de ninguém. Sequer de você mesmo. Então não sabote sua relação por causa do seu medo bobo e sua insegurança. Não sabote sua vida. Viva as coisas boas que você tem para viver. Viva com ela, mas viva também apesar dela. Você existia antes de a conhecer. Continue vivendo sem tê-la. Não dependa dela. Não a prenda. Quanto mais você prender, mais ela vai fugir de você. Quanto mais você depender dela, menos ela vai depender de você. E aí, o que pode acontecer? Ela vai embora, encontra outro cara que aceite tudo isso e você fica sozinho, perdido nas suas neuras infantis enquanto todos os outros vivem relações bonitas e saudáveis.

Viva para você. Acredite em você. Ela te quis, então algo legal e atraente você tem. Se vocês derem certo, que bom. Se não der certo, valeu a tentativa. Mas confie em você mesmo. Seja você. Se tiver algo para melhorar, melhore hoje. Não porque você não quer perdê-la, mas porque você não quer se perder. 

Confiança e autoconfiança são duas faces da mesma moeda. Quanto mais você confia em você mesmo, mais você vai confiar nos outros. Quanto mais você se respeita, mais você será respeitado.  E isso é lindo. Essa é a beleza da vida. 

Viva isso. Curta isso. 

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