Bagagem




Imagine que você vai voar com sua namorada para alguma viagem curta, e cada um de vocês leva uma bagagem, uma mala com suas coisas pessoais indispensáveis para os dias em que vão passar fora de casa. A bagagem é um pouco grande, e acaba se tornando desconfortável. Você, para ser gentil, se oferece para levar a mala dela, e carrega as duas. A mala continua pertencendo a ela, mas é você quem a está carregando. Ao embarcarem, coloca primeiro a mala dela no compartimento de bagagens, e percebe que não tem mais espaço para a sua, porque algum folgado resolveu preencher o espaço dele e de mais uma pessoa. Você precisa espremer sua mala em qualquer vão disponível, pois o espaço que seria da sua mala você cedeu para a mala dela. Mas lembre-se: ter feito tudo isso não te torna dono da bagagem dela, nem te dá o direito sequer de saber o que ela carrega. Se ela quiser te falar o que ela trouxe na mala é uma opção dela, mas ela não é obrigada a te dizer. 

Assim funciona com os relacionamentos. 

O passado de cada pessoa é como uma bagagem que cada um carrega consigo, para o resto da vida. Uma bagagem fechada, lacrada, onde somente o próprio dono tem acesso. Você não tem o direito de querer saber com detalhes o que aconteceu no passado dela, os relacionamentos anteriores, com quem ela já se envolveu, para quem ela já se declarou. Essas coisas dizem respeito a vida dela, e apenas dela. Se ela tiver interesse em te contar em algum momento, é uma opção dela. E tenha certeza: quanto menos você se preocupar em saber sobre o passado dela, mais à vontade ela vai se sentir para contar. Mas não, ela não vai contar tudo. Nenhum de nós conta tudo o que já aconteceu na vida para ninguém. Todos nós temos episódios na nossa vida que guardamos, que preferimos que ninguém saiba, pequenos - ou grandes - segredos que iremos levar escondidos para o túmulo. Segredos que não contamos para ninguém, as vezes nem para a pessoa que amamos. 

Assim como você não tem o direito de saber o que já aconteceu no passado dela, você também não tem a obrigação de tentar ajuda-la com o que já ocorreu na vida dela antes de te conhecer. Você é o companheiro dela, não o tutor. Assim como ela, você também tem sua mala, também tem seu passado para carregar, e carregar duas malas é esforço demais. Deixe que ela cuide do passado dela. Os ex dela são problema dela. Ela é adulta, maior de idade e responsável por si mesmo o suficiente para cuidar da própria vida. 

Deixe que ela leve a bagagem dela. E você carrega a sua. A viagem será muito mais agradável, sem sobrecarregar nenhum dos dois. 

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