Weslleytown | #Reflexão






Weslleytown é o melhor lugar do mundo pra se viver, dependendo do ponto de vista. 

Em Weslleytown não existem adversidades. Os problemas da vida moderna são apenas coisas externas, dessas que a gente só sabe que existe por ver falar na TV. Não existe desemprego, não existe a aflição pelo medo de perder o emprego. Todos por lá tem uma boa renda financeira, que permite a cada morador viver de forma digna e confortável, sem grandes extravagâncias, mas com a dignidade necessária a cada pessoa. 

As pessoas em Weslleytown são perfeitas. Os moradores são honestos, educados, respeitam o direito um do outro o tempo inteiro, pensam sempre no coletivo acima do individual. Empatia é a palavra que define a personalidade dos moradores de lá. 

E as famílias? Ah, as famílias de Weslleytown são perfeitas. Os casais se amam e se respeitam, não se sobrepõem jamais  um ao outro. Marido cuida da família e trás o sustento para casa, esposa cuida da casa e dos filhos, de maneira exemplar, e os filhos respeitam pai e mãe da maneira como deve ser. 

Em Weslleytown as pessoas não tem religião, mas seguem princípios cristãos que permeiam seu comportamento, sua forma de ver a vida, de se relacionar com as pessoas. Os ensinamentos cristãos formam a base comportamental dos moradores, e norteia a vida de cada um.

As mulheres de Weslleytown são "belas, recatadas e do lar". São discretas, usam roupas sóbrias, que não chamam muito a atenção de ninguém, tem poucos amigos - sempre mulheres, pois as mulheres de Weslleytown evitam amizades com outros homens para não darem o que falar na vizinhança. Se preservam para o homem certo, o homem escolhido, aquele homem com quem ela irá se casar e formar uma família feliz, dentro dos padrões da cidade. 

Os homens de Weslleytown são sérios, respeitadores. Evitam sair à noite, tem poucos amigos e preferem muito mais estudar do que qualquer outra diversão. Os homens de Weslleytown gostam muito de ler, e fazem desse hábito seu principal estilo de vida. 

As pessoas de Weslleytown não gostam de praia, nem frequentam estádios de futebol - aliás, não existem estádios de futebol em Weslleytown. Os homens assistem pela TV, e as mulheres não acompanham futebol, assim como deve fazer uma moça de bem. 

Em Weslleytown não existe funk, música sertaneja, nem qualquer outro estilo musical do momento. Rádios como Metropolitana, Rádio Disney são expressamente proibidas por lá. Por lá as pessoas gostam de rock, e apenas os rocks mais melódicos - metal, heavy metal são completamente abominados por lá. 

Weslleytown é um lugar perfeito, pensado milimetricamente para ser o lugar ideal, o paraíso desejado, a utopia, o destino final a ser conquistado. As pessoas de Weslleytown são o padrão perfeito de comportamento, aquilo que se busca em si mesmo e nos outros.

Weslleytown só tem um problema. 

Weslleytown não existe. 

Weslleytown é meu infinito particular, o lugar que existe apenas dentro de mim, de onde eu tiro todas as referências de pessoas e comportamentos que quero para minha vida. O problema é que ela existe apenas dentro de mim, e querer que outras pessoas se enquadrem no padrão que eu criei para mim mesmo é o mesmo que me auto-condenar a uma vida de solidão, pois ninguém tem a obrigação de ser da forma como eu quero que seja. 

"Cada um de nós compõe a sua história", já dizia a música. E quase todos os erros que me fizeram perder pessoas ao longo da vida começaram em eu querer que as pessoas vivam a minha história, se comportem da forma como eu digo que deve ser. Já afastei da minha vida pessoas incríveis porque não se enquadravam nos padrões de Weslleytown, a cidade-modelo do meu interior. 

Sair de Weslleytown é minha meta, é um dos meus planos de vida. Conhecer outras formas de vida, outros estilos, outras histórias, e a partir daí ampliar meus horizontes, me permitir viver coisas legais com pessoas que não se encaixam nos meus padrões de vida. 

Sim, é difícil. A vida em Weslleytown não é ruim, tenho tudo o que quero. Mas sozinho. Apenas eu moro nessa cidade. Para ver outras pessoas, preciso sair de lá. 

Não vou abandonar Weslleytown, pois tenho também o direito de ter minha própria personalidade, preciso respeitar minha história e quem sou. Quero apenas me permitir conhecer outros estilos de vida, sem precisar renegar quem sou. Quero trazer outras pessoas a Weslleytown e permitir que elas povoem esse lugar com suas histórias de vida. 

Weslleytown, meu infinito particular, pode ser muito mais rico com as experiências de outros. 

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