Jhenny Cravo e Canela



Para os homens ela é a personificação da utopia da mulher perfeita; é a materialização do apogeu da perfeição feminina que povoa o imaginário comum masculino em qualquer parte do mundo; a prova da existência da beleza completa, daquela aparentemente inatingível que só se vê nas revistas. É ao mesmo tempo menina e mulher. A menina pura e singela que exala inocência e candura, a doce criança que desperta em nós os mais puros e sinceros sentimentos, a menina a quem, tal qual a uma flor nascida em meio a pedras, queremos proteger das maldades de um mundo cruel, cinza e acimentado, que não foi feito para abrigar tão cândida e frágil criatura. Mas é também a mulher adulta, a sensual, o "mulherão", aquela incrivelmente gostosa que desperta nos homens os mais profundos e secretos desejos carnais de prazer e sensualidade; aquela que causa confusão na mente masculina obcecada por sua beleza, que não sabe se a deseja loucamente com todo o prazer sexual que ela inspira ou se lhe presta tributo, como se fosse a deusa maior de uma religião onde a beleza é a atribuição divina predominante. Assim é ela, a nossa verdadeira Anita, a prova de fogo que separa um garoto de um homem. Garotos, perto dela, são só garotos, já dizia a canção. Homens, em contato com ela, são apenas meros espectadores do seu espetáculo natural de perfeição, do show de feminilidade que ela dá inconscientemente apenas sendo ela mesma. É a deusa grega capaz de desestabilizar qualquer Olimpo e provocar guerra entre deuses que a disputam como o grande prêmio a ser conquistado.

Ela desperta os mais variados sentimentos em quem a conhece. Em algumas mulheres provoca inveja, aquele recalque intrínseco ao psicológico feminino que faz com que ela seja nada menos que uma rival a ser desmoralizada; seu poder de atração sobre os homens incomoda suas iguais, que sabem que seriam facilmente derrotadas numa simples comparação com ela; isso desperta a ira, uma ira que muitas vezes toma forma de poder maquiavélico, poder esse que faz com que as que se sentem ameaçadas tentem derrubá-la a todo custo. Nos moralistas desperta raiva, a raiva típica dos que a desejam, mas que por força da imagem de "defensores dos bons costumes" se veem obrigados a conter seu desejo, e por isso usam a repulsa para espantar seus próprios fantasmas. Nos liberais de mente aberta ela trás a alegria de saber que ainda há no mundo pessoas bem resolvidas com o próprio corpo o suficiente para se despir para fotos e ensaios, sem a hipocrisia do "politicamente correto" e sem a mordaça da "moral e os bons costumes".

Ela define perfeitamente o que é ser "gostosa". Seu corpo tem as curvas que Niemeyer tanto homenageou em suas esculturas. Parece ter sido desenhada por encomenda, pelo mais competente designer que, tal qual um desenhista de pedras preciosas, pensou em cada detalhe, cada centímetro de seu corpo, com o objetivo de apresentar o modelo perfeito. Ela representa bem a mulher brasileira: sensual o tempo todo, atraente, até quando não tem a intenção de o ser.  Mas tem a elegância e o charme da mulher europeia, a mulher misteriosa que faz segredo sobre quem é o que que quer. 

Tal qual a Gabriela de Jorge Amado ela chama a atenção e divide opiniões. Causa alvoroço onde passa. É motivo de discussões e debates. Pessoas falam sobre ela, tentam entendê-la, defini-la. Impossível. Ela não se define nem pode ser definida. Sua beleza exuberante chega sempre na frente e faz com que alguns digam que ela é apenas um rosto bonito, mas logo atrás sua simpatia e o carisma calam a boca dos críticos. Ela tem a força e a garra do brasileiro, mas a doçura e simpatia de uma criança. É ao mesmo tempo maliciosa e ingênua. Forte e indefesa. Ela é a definição plena do que se entende por "mulher".


Ela é Jhenny Andrade, a Jhenny, a Gabriela dos tempos atuais.



A Gabriela que não tem vergonha de exibir o próprio corpo sensualmente. Ela não precisa passar pelo milagre dos retoques digitais. Não precisa das milhares de opções das mais caras maquiagens nem do talento dos melhores maquiadores. Ela dispensa qualquer complemento, qualquer "algo a mais" que possa torná-la peça de uma obra de arte. Por que? Oras, ela é a arte. Qualquer coisa além dela é desnecessário. É apenas ela. Jhenny, a nossa Gabriela. A que usa a força colossal da sensualidade para mostrar a fragilidade e singeleza que o seminu expõe. A que, ao tirar a roupa e expor seu corpo em minúsculos trajes para uma sessão de fotografia ou para se exibir para milhões de pessoas num octógono televisionado por emissoras ao redor do mundo, tira também a capa da conveniência social e se expõe de pele limpa, dá a cara a bater, sem se importar com a opinião de terceiros. Sua seminudez expões sua força e fraqueza. É a menina indefesa, que pede proteção e apoio, e a mulher autoconfiante, que não tem medo de nada e vai à luta, custe o que custar. Ali, exposta aos olhos de todos, ela é apenas a Jhenny. Ou, se olharmos por outro ponto de vista, ali ela é "a" Jhenny, a poderosa, a que estala os dedos e tem o mundo aos seus pés. 

Ela é a Gabriela que não se submete à regras impostas por outros. Ainda não nasceu o Nacib capaz de encabrestá-la. Ela entra e sai quando quer. Dispensa e atrai novamente. É cortejada pelos que antes a julgaram. Quem a dispensou agora a chama de volta. Quem a criticou agora a elogia. Quem a desdenhou agora a quer a todo custo. Mas ela não tem custo. Mulheres como ela não se compram. Não se vendem. Ela é o tesouro maior do pirata que vira o mundo atrás de seu objetivo, é o cume do monte do aventureiro, o prêmio do competidor, o cinturão do lutador, o destino final do viajante. Ela é o que todo homem

Assim é ela, nossa Jhenny, a Jhenny Cravo e Canela.