Cada um de nós vivemos em um mundo, um universo pessoal, um "infinito particular", como bem diz a Marisa Monte, e de quem pego emprestado essa expressão sempre que abordo esse tema. Para alguns, seu infinito particular são os pais, colegas de escola, vizinhos e amigos de infância. Para outros pode ser o trabalho, ou apenas a esposa, ou o marido e os filhos, ou o grupo religioso, ou qualquer outra coisa ou pessoa com a qual se tenha afinidade, se conviva diariamente e se tenha laços fortes. Todos nós temos nosso mundo, nossa caixa, nosso habitat onde crescemos, fincamos raízes e onde vivemos, e onde muitas vezes construímos nosso futuro.
Por melhor que seja a vida dentro desse mundo, algumas pessoas sabem que pensar fora da caixa pode ser algo muito gratificante. Ver por cima dos muros, conhecer gente além das nossas fronteiras internas, experimentar culturas diferentes, situações nunca antes pensadas. Essas são coisas que fazem bem, pois nos fazem enxergar que existem mundos diferentes dos nossos, e que às vezes há coisas boas em outras formas de ver a vida. Como muito bem disse a Pitty em sua musica Anacrônico, existe um "outro ciclo em diferentes fases vivendo de outra forma, com outros interesses, outras ambições mais fortes". Tanto porque ninguém é a mesma pessoa desde sempre. Todos nós mudamos nossa forma de pensar conforme o passar dos anos. Lembre quem era você há dez anos atrás. Muita coisa mudou em sua cabeça, não? Sabe por que? O mundo mudou nesse tempo. As informações mudaram, o padrão cultural mudou, as pessoas mudaram. Ou seja, conhecer outras formas de ver a vida é algo muito positivo para todos nós. Uma experiência que ninguém poderia deixar de tentar viver.
Mas nem sempre as pessoas pensam assim. Talvez pelo medo do desconhecido, pela insegurança de não saber o que vai encontrar na busca pelo diferente, essas pessoas se fecham em seus mundos e preferem evitar contato próximo com tudo que venha de fora. São pessoas que consideram bastante cômoda e feliz a vida dentro do próprio mundo em que vivem e preferem não buscar nada que não faça parte de seu infinito particular. Essas pessoas se bastam dentro de seus mundos e não veem qualquer necessidade de contato externo. Sendo assim essas pessoas irão repelir qualquer tentativa externa de aproximação, seja pelo desprezo, seja pela indiferença ou pela rejeição direta. Essas são pessoas que são sim, felizes e que tem sim grande chance de dar certo na vida e obter sucesso. Mas perdem por deixar de conhecer o diferente.
Sim, é importante manter laços, criar vínculos. Lógico que sim. Eu seria um louco e iria contra anos de estudos sociais se dissesse algo diferente disso. Todos nos precisamos de um chão firme, uma terra onde possamos retornar, pessoas confiáveis com quem podemos contar em todo o tempo. Todos nós precisamos do nosso "infinito particular". Ele é saudável e necessário. Mas é um grande erro se fechar nesse mundo. Uma das maiores virtudes humanas é saber que há vida inteligente fora da nossa caixa pessoal, e que muitas vezes, pelo medo do desconhecido, perder grandes oportunidades. Oportunidades para a vida toda.
Antes de se fechar em seu próprio mundo e se anunciar ou sinalizar como autossuficiente, reflita sobre o que você pode perder se deixar de conhecer o mundo externo. Não é abandonar suas raízes e desfazer seu mundo em nome de uma aventura desconhecida. É dar espaço para que outras pessoas e formas de pensar façam parte de seu mundo. Não é sair da caixa, é aumentar o tamanho dela. Como o próprio nome diz, seu "infinito" particular tem sim espaço pra muitas novas experiências.
É só prestar um pouco mais de atenção ao que há em volta. Ou não tão em volta assim, mas em algo ou alguém que tenta a todo custo se aproximar e você, talvez pelo medo do desconhecido, esteja afastando.