Não, a entrevista não aconteceu.
Mas se acontecesse, seria algo parecido com isso:
***
Ellen De Generes: Vamos receber agora a presidente brasileira Dilma Roussef.
(Entra Dilma).
Ellen: olá, presidente. Seja bem vinda à América.
Dilma: Olá, Ellen. Olá aos americanos, também.
Ellen: presidente, a senhora pediu para falar com a imprensa americana, e disse que há algo grave para denunciar. O que é?
Dilma: Olha, no que se refere a questão da situação política do Brasil atual, eu gostaria de denunciar um golpe que está em curso no Brasil
Ellen: e como é esse golpe?
Dilma: veja bem: meu vice, aliado ao presidente da Câmara dos Deputados e seu partido, querem me tirar do poder para assumir o governo.
Ellen: Nossa, isso é sério. E de que forma querem tirar a senhora do poder? Cercaram o Congresso com as Forças Armadas, ou algo do tipo?
Dilma: Não, querem me tirar do poder via impeachment.
Ellen: Hmm, e qual a alegação que dão para o Impeachment?
Dilma: Olha, dizem que eu cometi crime de responsabilidade ao fazer pedaladas fiscais.
Ellen: "Pedaladas fiscais"... O que é isso?
Dilma: No que se refere a questão das pedaladas, seria atrasar o repasse de dinheiro para os bancos públicos com o intuito de "disfarçar" para o mercado financeiro, dando a impressão de que o governo está com despesas menores.
As instituições financeiras que financiam alguns projetos do governo – como benefícios sociais e previdenciários – acabam por utilizar o próprio dinheiro para pagar estas despesas, evitando que os beneficiários destes planos sejam prejudicados.
Com esta medida, o governo consegue "tapear" o mercado, fazendo aumentar o superávit primário e impedir um déficit primário, que consiste quando as despesas do governo são maiores do que as receitas.
Por outro lado, as dívidas do governo com os bancos e instituições financeiras aumentam. E tudo isso é proibido pela Constituição Brasileira.
Ellen: e a senhora fez isso?
Dilma: Bem, fiz, mas...
Ellen: Mas então a acusação é legítima?
Dilma: Sim, mas... Mas todo mundo no Brasil faz isso.
Ellen: Todo mundo quem?
Dilma: Meus antecessores fizeram, todos os governadores de estado fazem todos os anos. Por que só eu seria punida?
Ellen: Mas o fato de todos os outros fazerem não legitima o fato de a senhora fazer, não acha?
Dilma: não, mas é que... Cê sabe, estão me perseguindo.
Ellen: Quem está te perseguindo?
Dilma: A imprensa, a Direita e o PMDB, o partido do Michel.
Ellen: Quem é Michel?
Dilma: Meu vice. Ele e o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha querem me tirar do poder.
Ellen: Realmente, são duas forças poderosas contra a senhora. Ainda há alguém apoiando a senhora no Brasil?
Dilma: Sim, bastante gente. Meus ministros estão ao meu lado, alguns saíram, mas os que ficaram estão ao meu lado. Meu partido me apoia integralmente, há outros partidos de esquerda em minha defesa e uma parte da população está ao meu lado.
Ellen: E mesmo com um apoio tão amplo a senhora se sente perseguida, é isso?
Dilma: Sim. Há uma perseguição contra mim e contra meu partido, o PT.
Ellen: e o PT está no poder há quantos anos?
Dilma: Treze anos.
Ellen: E mesmo sendo perseguido o partido conseguiu ficar todo esse tempo no poder?
Dilma: É...
Ellen: E como conseguiu chegar à ONU hoje?
Dilma: No avião das Forças Aéreas Brasileiras.
Ellen: E quem ficou no seu lugar no Brasil?
Dilma: Meu vice.
Ellen: O tal "Michel", o mesmo que quer tomar seu lugar?
Dilma: Sim.
Ellen: Mas não há um golpe ocorrendo no país? Como a senhora consegue sair do país e ainda usar a Força Militar do seu país para viajar tranquilamente?
Dilma: Bom...
Ellen: E como a senhora viaja e deixa o organizador do golpe no seu lugar? Não tem medo de ele aplicar um golpe de Estado enquanto a senhora estiver fora para destituí-la do poder?
Dilma: Não, as instituições brasileiras são sólidas, isso é impossível acontecer.
Ellen: Então, isso não me parece clima de golpe.
Dilma: Olha, minha filha, cê não quer acreditar não acredite. Mas há sim um golpe ocorrendo no país.
Ellen: Presidente, em clima de golpe o presidente mal consegue sair da cadeira para ir ao banheiro. Em clima de golpe todo o entorno do presidente conspira contra. A senhora tem ao seu lado as Forças Armadas, seus Ministros, seu partido. A senhora consegue viajar tranquilamente com a garantia de que vai conseguir voltar e assumir o mandato de novo. A senhora veio pedir asilo nos EUA?
Dilma: Não, não preciso de asilo.
Ellen: Então não há golpe, presidenta. Pelo que a senhora mesma disse, há um crime de responsabilidade cometido pela senhora e um processo de punição correndo no Parlamento do seu país. Não há golpe nisso.
Dilma: Mas o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que foi quem autorizou a abertura do processo de impeachment, tem dinheiro na Suíça e responde por vários crimes.
Ellen: Sim, a reputação dele não é boa por aqui. Mas esses crimes cometidos por ele têm relação com a abertura do processo de impeachment? Ele usou esse dinheiro da Suíça para comprar votos dos deputados para conseguir apoio ao impeachment?
Dilma: Não.
Ellen: E ele está sendo investigado por essas denúncias?
Dilma: Sim, a Polícia Federal brasileira e o Supremo Tribunal Federal tem uma investigação aberta contra ele. Ele corre risco de ser preso a qualquer momento.
Ellen: E no processo de votação do impeachment ele não usou o dinheiro da Suíça, e apenas usou da atribuição de presidente da Câmara para abrir o processo e deixar que a Câmara fizesse o resto, certo?
Dilma: (silêncio).
Ellen: Presidenta, me desculpe mas não vejo nenhum tipo de golpe ocorrendo no seu país. A senhora tem sim o direito de se defender, mas acusar um processo embasado em crime e amparado na Constituição do seu país não é golpe.
Dilma: Sua golpista, cê deve fazer parte do PIG.
Ellen: O que é PIG?
(Entra o comercial).
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