Irmã Josefina | #Opinião

Bolsonaro e o ex-Ministro da Educação, Abrahan Weintraub


Irmã Josefina é bastante conhecida na igreja evangélica onde cresci. Na época em que eu ainda frequentava a igreja, ela era uma senhora bastante humilde, que precisava de apoio social da igreja para alimentar seus filhos. Seu marido - não era casada, apenas vivia junto com ele há anos - a agredia constantemente de forma covarde, com socos e pontapés na cabeça, e todo mundo sabia, mas não fazia nada, pois na rua ele era um sujeito bastante agradável, desses que conversam com todo mundo. Uma vez perguntei porque ninguém denunciava, mas ouvi que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher". Na igreja era uma mulher discreta, que era proibida de participar de qualquer atividade não pública - cantar em conjuntos, tomar Santa Ceia - pois não era casada, ou seja, "vivia em pecado", como o pastor dizia. Sim, na visão da Igreja ela não deveria se separar, e sim se casar com o homem que chutava sua cabeça.

Acontece que, com o passar dos anos, Irmã Josefina foi mudando. Da senhora discreta, que passava quase despercebida nos cultos, passou a orar mais alto. E mais alto. E mais alto. E suas orações se tornaram gritos estridentes, que depois evoluíram para o que ela dizia serem "mensagens de Deus". E profetizava em todos os cultos. Dizia ter tido sonhos e relevações sobre acontecimentos futuros. Mas o que ela mais gostava de fazer mesmo era denunciar pecados em público, no meio dos cultos. Dizia ser a guardiã da sã doutrina, e que Deus a havia escolhido para limpar os pecados da igreja. E aí o ceu era o limite - desculpe o trocadilho. Apontava o dedo para mulheres e dizia que elas estavam "em adultério", os jovens todos estavam sob o pecado da masturbação, adolescentes estavam condenadas ao inferno por terem cortado as pontas do cabelo, e não parava mais. E o pastor da igreja? Permitia tudo, pois dizia que irmã Josefina era "ungida de Deus", "profeta" e outras coisas mais. Certa vez chegou a ameaçar agredir uma garota que exibia um leve traço de decote em sua blusa.

Mas a Ana, filha da Irmã Josefina sabia que algo estava muito errado.

Sabendo da história de vida da mãe, presenciando as agressões, e vendo o comportamento estranho nos últimos meses, Ana tomou a decisão que muitos filhos demoram pra tomar, pelo medo de assumir que a própria mãe tem problemas: levou Irmã Josefina em um psiquiatra. Após algumas sessões e bastante conversa, o médico diagnosticou clinicamente o que muita gente na igreja sabia, mas não tinha coragem de falar: Irmã Josefina sofria de um quadro grave de esquizofrenia. Receitou medicações e, em menos de uma semana, a evolução era nítida. Os gritos e as profecias de Irmã Josefina sumiram. A mulher agressiva que denunciava pecados sumiu e deu lugar à discreta e tranquila mulher de antes. O marido agressor foi embora de casa, mas nunca foi denunciado.

E por que ilustrar essa história com uma foto do Bolsonaro?

Poucas pessoas tem coragem de dizer isso, mas há algo muito errado com Jair Bolsonaro. Suas bravatas, seus discursos, a forma como se refere ao Exército como se fosses seus soldadinhos de plástico, e sua reação à pandemia fogem à qualquer senso mínimo de razão. Em um momento ele se comporta como aquele tiozão piadista de churrasco que nunca saiu dos anos 70; depois age como um genocida cruel e sanguinário que mereceria um aperto de mão de Hitler; em outro momento é o Messias escolhido por Deus para livrar o país das mãos nefastas do comunismo e entregar à Igreja Evangélica, a única representante de Deus na Terra. 

Bolsonaro me lembra muito a Irmã Josefina. 

Bolsonaro é mais do que um homem despreparado para o cargo que ocupa. Isso a Dilma também era. Bolsonaro criou uma realidade paralela para si, onde ele conseguiu o que queria. Chegou ao cargo máximo da nação e, com isso, assumiu a posição de responsável pelo bem estar da família tradicional brasileira. Assumiu para si a função de combater o comunismo, derrotar a "ideologia de gênero", e promover a liberdade. Além disso, ele conseguiu se vingar do Exército que o expulsou em 1988. De "incompatível com o oficialato", virou o Chefe Supremo. Sonha em precisar colocar o Exército na rua, e para isso busca os motivos mais absurdos, mas não para defender qualquer coisa, e sim provar aos generais que agora é ele quem manda. Sua lealdade às Forças Armadas escondem o sentimento de vingança. E ele não se furta em criar crises para ter onde usar o soldados. Assim como uma criança de 8 anos que brinca com seus soldadinhos de plástico e cria guerras grandes e barulhentas, Bolsonaro sonha em fazer o mesmo, mas agora com um Exército de verdade. 

Bolsonaro é esquizofrênico, em um grau grave e que necessita de cuidados urgentes. 

Ele precisa ser parado urgentemente, e por motivos de saúde. 

Será que ninguém na família percebeu isso? Sim, esposa e filhos com certeza perceberam isso. Mas diferente da Ana, filha da Irmã Josefina, os Bolsonaros jamais farão qualquer coisa a respeito da esquizofrenia do Louco Mor, principalmente porque convém a eles. 

Aos filhos, porque o papito não se sente minimamente constrangido em fazer o que for para proteger os filhos, mesmo que esses tenham feito as piores cagadas na vida. Se for preciso, troca delegados, investigadores e até Ministro, se for necessário pra proteger os filhos. Considerando que, de toda a prole bolsonarista, apenas a pequena garota não tem nada para se explicar, esse é o pai dos sonhos: faço o que eu quero, e na hora que der ruim papai me livra. Por esse motivo, os filhos saem em defesa do pai a cada arroubo de loucura: eles precisam do pai louco desse jeito. É melhor para eles.

E a esposa? Bom, pelos gastos de cartão corporativo, pelos amigos e maquiadores transportados em aviões da FAB, ela demonstra estar muito bem com a vida atual; talvez ser casada com um louco e ter a vida sexual exposta ao público pelo próprio marido seja um preço razoável a pagar. 

Irmã Josefina e Bolsonaro, guardadas as devidas proporções, são muito parecidos. A diferença é que a pobre irmã da igreja se curou. Já o Presidente...

Silêncio Também é Música | #Crônicas



Imagine se numa orquestra todos tocassem o tempo inteiro juntos. Seria algo horrível de se ouvir! Já pensou trompetes com violoncelos, violinos com percussão, tubas e flautas, todos fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo? Arre, não quero nem imaginar. 

Sabe o que faz da música algo agradável e magnífico? Sabe o que faz Mozart ser tão apreciado? Chopin ser tão aclamado? Villa Lobos estudado e seguido por milhares de jovens sonhadores? Não, não são os acordes bem escritos e pensados harmonicamente; não são as escalas desenhadas perfeitamente para aquele ou esse instrumento; não são os intervalos de terça, de quinta, que fazem o jogo de notas serem mais do que bolinhas pretas e brancas numa partitura; não são as expressões italianas que parecem fazer mágica ao marcarem mudanças de andamento tão sensíveis à audição; não é a mudança de um “afetuoso” para um “agitato”, ou de um “cantabile” para um “scherzando”; não, não é a mudança de compasso nem a armadura da clave, nem os sustenidos e bemois tão belos quando executados à risca. Não é nada disso que trás beleza à música. Sim, essas coisas todas contribuem, claro. Mas sabe o que faz mesmo a diferença numa bela música? Saber respeitar o silêncio. 

Sim, o silêncio é tão importante que o primeiro teórico musical resolveu musicá-lo, também. Existem símbolos com valores diferentes e toda uma estrutura para abarcar o silêncio na música. Bom músico não é aquele que executa bem sua partitura. Bom músico é aquele que sabe respeitar o silêncio. 

Ninguém toca uma peça inteira do começo ao fim. Há momentos em que você brilha com seu instrumento e arranca aplausos da plateia, mas há momentos em que você precisa ficar em silêncio, quietinho, esperando no seu canto, dando a vez para que o outro brilhe, pra só aí voltar a executar. Sim, isso é o silêncio em música. Saber esperar e respeitar a vez do outro. Por quanto tempo? Sei lá, alguns bons tempos. 

Saber respeitar o silêncio, o momento de calar, é tão importante que a mais bela nota, o mais belo acorde, o mais perfeito sustenido executado num momento de silêncio torna-se uma aberração aos ouvidos. Silêncio é silêncio. Shiiii! Quietinho! Não é sua vez, agora. Espere! 

Quer saber quanto tempo deve ficar em silêncio? Siga sua partitura, está tudo escrito lá.

Precisamos parar com a cultura de "jogar no lixo" o que não serve mais | #Opinião




A pandemia escancarou algumas das piores mazelas dessa sociedade. Uma delas é a cultura de jogar no lixo qualquer coisa que aparentemente não sirva mais. Uma reportagem do UOL mostrou que enfermeiros abriam um frasco com 10 doses de vacina da Astra-Zeneca, usavam uma dose e, por falta de demanda, jogavam as outras 9 fora. Estamos pagando bilhões - sim, estamos, pois é o nosso dinheiro - por essas vacinas, para profissionais simplesmente jogarem fora. Por que? Porque é assim que se faz no Brasil. 

Perto da minha casa, dentro de um parque, está o Museu do Lixo, que tem apenas coisas retiradas da represa que fica aqui perto. E com isso o Museu tem uma casa mobiliada completa: sala com sofá de 2 e 3 lugares, estante, TV, tapete, quarto com cama de casal, colchão, guarda-roupa cheio de roupas, cozinha com mesa, fogão, geladeira, armário de parede. Tudo retirado da represa. 

Já conheci pessoas que trabalhavam com coleta de lixo - os "lixeiros" - e todos eles falam a mesma coisa: a quantidade de coisas boas e novas que se encontra nos lixos. 

Outros países tem uma cultura de restauração e doação muito forte. O que não me serve mais serve para outro. O que eu não voou usar mais posso doar para alguém. O que está quebrado pode ser consertado. O que está com uma aparência ruim pode ser pintado. Mas não por aqui. No Brasil jogamos tudo no lixo. E muitas vezes sequer da forma correta. Apenas abandonamos na rua ou nas represas. 

Enquanto não nos conscientizarmos de que somos um país com diferenças sociais gritantes e continuarmos com a cultura de jogar no lixo o que não serve, veremos cenas como essa. 

No Brasil se joga qualquer coisa no lixo. Até mesmo a vacina para a Covid.

Vocês Pensaram Que Eu Não Ia Falar da Anitta Hoje? | #Opinião




Sim, sou um admirador da Anitta. Meus alunos de espanhol, que já tiveram que cantar algumas das músicas dela, sabem bem disso 😆 Não sou fã, primeiro porque as músicas dela não fazem parte do meu estilo preferido, e também porque "fã" me lembra o "fanático", que acompanha e se sente no direito de opinar na vida pessoal do artista. Eu, no máximo sei o nome real dela, Larissa. Por mim ela pode pegar o ex da Piovani, jogador de futebol, até o Sílvio Santos, se ela quiser. Isso é a vida pessoal dela. 

O que admiro é o que eu chamo de "Marca Anitta", a forma como ela gerencia a própria carreira. Sem dúvidas, a Anitta hoje é um dos maiores cases de sucesso empresarial do Brasil, tanto que sempre é lembrada por publicações do meio empresarial, sempre é convidada para programas de TV que falam de negócios ou para eventos e palestras para empreendedores. Mais do que uma mulher que "só rebola a bunda" (uma bela de uma raba, diga-se de passagem 😉), a Anitta é inteligente, estrategista e sabe fazer dinheiro. Ouvi-la falando sobre o começo da carreira, sobre a teimosia dela em estar presente no meio dos principais nomes da música carioca quando ainda era só uma estagiária na Vale, da escolha entre investir na música ou ser efetivada no estágio, é perceber que certos princípios do sucesso empresarial podem ser aplicados em qualquer área, até mesmo no funk carioca. 






Pra quem tem a origem humilde que ela teve, estar onde está hoje é inspirador. Sem origem privilegiada nem qualquer aporte de nenhum parente rico (tipo uma certa especialista em finanças que diz ter começado do nada mas "ganhou" um carro zero e uma conta bancária cheia de números da tia quando completou 18 anos) nem ajuda de quem quer que seja, ela teve que subir sozinha cada degrau, um por um, com trabalho, conhecimento e esforço. É essa inspiração que ela me transmite. Não tem raba que tenha a força de levar uma mulher ao patamar que a Anitta alcançou. Isso é inteligência emocional e empresarial, estar antenada ao que acontece no mundo, dar a cara a tapa e não ter medo de fazer cagada. 

Do ponto de vista comercial, ela vende muito mais do que o sexismo e a hiperssexualização do corpo da mulher. Ela vende entretenimento, vende afirmação feminina, vende liberdade de ser a mulher que se quer ser, seja pura ou "piriguete". 

Goste dela ou não, goste das músicas dela ou não, não dá pra negar que ela é hoje o maior nome da música pop brasileira no exterior, fato esse conquistado aos poucos, com planejamento de marketing e de carreira. 

Resumindo: a Anitta é um mulherão da porra! 

E, pra concluir, você tem todo o direito de não gostar dela, da forma sexualizada como ela se apresenta, de a achar "vulgar", "mulher fácil" e etc. Mas você fica também automaticamente proibido de gostar de nomes como Shakira, Beyoncé, Usher, e de 90% do axé brasileiro, que tem a mesma essência das músicas da Anitta. Ou você mantém a coerência ou assume o preconceito.

Weslleytown | #Reflexão






Weslleytown é o melhor lugar do mundo pra se viver, dependendo do ponto de vista. 

Em Weslleytown não existem adversidades. Os problemas da vida moderna são apenas coisas externas, dessas que a gente só sabe que existe por ver falar na TV. Não existe desemprego, não existe a aflição pelo medo de perder o emprego. Todos por lá tem uma boa renda financeira, que permite a cada morador viver de forma digna e confortável, sem grandes extravagâncias, mas com a dignidade necessária a cada pessoa. 

As pessoas em Weslleytown são perfeitas. Os moradores são honestos, educados, respeitam o direito um do outro o tempo inteiro, pensam sempre no coletivo acima do individual. Empatia é a palavra que define a personalidade dos moradores de lá. 

E as famílias? Ah, as famílias de Weslleytown são perfeitas. Os casais se amam e se respeitam, não se sobrepõem jamais  um ao outro. Marido cuida da família e trás o sustento para casa, esposa cuida da casa e dos filhos, de maneira exemplar, e os filhos respeitam pai e mãe da maneira como deve ser. 

Em Weslleytown as pessoas não tem religião, mas seguem princípios cristãos que permeiam seu comportamento, sua forma de ver a vida, de se relacionar com as pessoas. Os ensinamentos cristãos formam a base comportamental dos moradores, e norteia a vida de cada um.

As mulheres de Weslleytown são "belas, recatadas e do lar". São discretas, usam roupas sóbrias, que não chamam muito a atenção de ninguém, tem poucos amigos - sempre mulheres, pois as mulheres de Weslleytown evitam amizades com outros homens para não darem o que falar na vizinhança. Se preservam para o homem certo, o homem escolhido, aquele homem com quem ela irá se casar e formar uma família feliz, dentro dos padrões da cidade. 

Os homens de Weslleytown são sérios, respeitadores. Evitam sair à noite, tem poucos amigos e preferem muito mais estudar do que qualquer outra diversão. Os homens de Weslleytown gostam muito de ler, e fazem desse hábito seu principal estilo de vida. 

As pessoas de Weslleytown não gostam de praia, nem frequentam estádios de futebol - aliás, não existem estádios de futebol em Weslleytown. Os homens assistem pela TV, e as mulheres não acompanham futebol, assim como deve fazer uma moça de bem. 

Em Weslleytown não existe funk, música sertaneja, nem qualquer outro estilo musical do momento. Rádios como Metropolitana, Rádio Disney são expressamente proibidas por lá. Por lá as pessoas gostam de rock, e apenas os rocks mais melódicos - metal, heavy metal são completamente abominados por lá. 

Weslleytown é um lugar perfeito, pensado milimetricamente para ser o lugar ideal, o paraíso desejado, a utopia, o destino final a ser conquistado. As pessoas de Weslleytown são o padrão perfeito de comportamento, aquilo que se busca em si mesmo e nos outros.

Weslleytown só tem um problema. 

Weslleytown não existe. 

Weslleytown é meu infinito particular, o lugar que existe apenas dentro de mim, de onde eu tiro todas as referências de pessoas e comportamentos que quero para minha vida. O problema é que ela existe apenas dentro de mim, e querer que outras pessoas se enquadrem no padrão que eu criei para mim mesmo é o mesmo que me auto-condenar a uma vida de solidão, pois ninguém tem a obrigação de ser da forma como eu quero que seja. 

"Cada um de nós compõe a sua história", já dizia a música. E quase todos os erros que me fizeram perder pessoas ao longo da vida começaram em eu querer que as pessoas vivam a minha história, se comportem da forma como eu digo que deve ser. Já afastei da minha vida pessoas incríveis porque não se enquadravam nos padrões de Weslleytown, a cidade-modelo do meu interior. 

Sair de Weslleytown é minha meta, é um dos meus planos de vida. Conhecer outras formas de vida, outros estilos, outras histórias, e a partir daí ampliar meus horizontes, me permitir viver coisas legais com pessoas que não se encaixam nos meus padrões de vida. 

Sim, é difícil. A vida em Weslleytown não é ruim, tenho tudo o que quero. Mas sozinho. Apenas eu moro nessa cidade. Para ver outras pessoas, preciso sair de lá. 

Não vou abandonar Weslleytown, pois tenho também o direito de ter minha própria personalidade, preciso respeitar minha história e quem sou. Quero apenas me permitir conhecer outros estilos de vida, sem precisar renegar quem sou. Quero trazer outras pessoas a Weslleytown e permitir que elas povoem esse lugar com suas histórias de vida. 

Weslleytown, meu infinito particular, pode ser muito mais rico com as experiências de outros. 

Bagagem




Imagine que você vai voar com sua namorada para alguma viagem curta, e cada um de vocês leva uma bagagem, uma mala com suas coisas pessoais indispensáveis para os dias em que vão passar fora de casa. A bagagem é um pouco grande, e acaba se tornando desconfortável. Você, para ser gentil, se oferece para levar a mala dela, e carrega as duas. A mala continua pertencendo a ela, mas é você quem a está carregando. Ao embarcarem, coloca primeiro a mala dela no compartimento de bagagens, e percebe que não tem mais espaço para a sua, porque algum folgado resolveu preencher o espaço dele e de mais uma pessoa. Você precisa espremer sua mala em qualquer vão disponível, pois o espaço que seria da sua mala você cedeu para a mala dela. Mas lembre-se: ter feito tudo isso não te torna dono da bagagem dela, nem te dá o direito sequer de saber o que ela carrega. Se ela quiser te falar o que ela trouxe na mala é uma opção dela, mas ela não é obrigada a te dizer. 

Assim funciona com os relacionamentos. 

O passado de cada pessoa é como uma bagagem que cada um carrega consigo, para o resto da vida. Uma bagagem fechada, lacrada, onde somente o próprio dono tem acesso. Você não tem o direito de querer saber com detalhes o que aconteceu no passado dela, os relacionamentos anteriores, com quem ela já se envolveu, para quem ela já se declarou. Essas coisas dizem respeito a vida dela, e apenas dela. Se ela tiver interesse em te contar em algum momento, é uma opção dela. E tenha certeza: quanto menos você se preocupar em saber sobre o passado dela, mais à vontade ela vai se sentir para contar. Mas não, ela não vai contar tudo. Nenhum de nós conta tudo o que já aconteceu na vida para ninguém. Todos nós temos episódios na nossa vida que guardamos, que preferimos que ninguém saiba, pequenos - ou grandes - segredos que iremos levar escondidos para o túmulo. Segredos que não contamos para ninguém, as vezes nem para a pessoa que amamos. 

Assim como você não tem o direito de saber o que já aconteceu no passado dela, você também não tem a obrigação de tentar ajuda-la com o que já ocorreu na vida dela antes de te conhecer. Você é o companheiro dela, não o tutor. Assim como ela, você também tem sua mala, também tem seu passado para carregar, e carregar duas malas é esforço demais. Deixe que ela cuide do passado dela. Os ex dela são problema dela. Ela é adulta, maior de idade e responsável por si mesmo o suficiente para cuidar da própria vida. 

Deixe que ela leve a bagagem dela. E você carrega a sua. A viagem será muito mais agradável, sem sobrecarregar nenhum dos dois. 

Ensaio sobre confiança e autoconfiança | #Reflexão



Você precisa escolher confiar nela. E em você.

Sim, apenas confiar. 

Porque você só tem duas alternativas, cara: ou você confia na pessoa que está com você e entrega a ela a responsabilidade de te respeitar cuidar da sua confiança, ou você surta e dá crises de ciúme feito adolescente inseguro que tenta a todo custo, e sem sucesso, disputar a atenção dela com todas as pessoas que ela conhece. 

Ainda não inventaram um microchip que acompanhe os passos da pessoa amada, que monitore em tempo real as conversas de WhatsApp, as directs do Instagram, as conversas presenciais, o que ela pensa, e te forneça relatórios e gráficos diários de tudo isso com os índices e percentuais de probabilidades de levar um chifre. E mesmo que isso já tivesse sido inventado, essa seria a pior e mais doentia invenção do mundo, pois teria como única finalidade alimentar a neura dos inseguros. 

Sim, ela tem amigos. No masculino, mesmo. Amigos. Homens. Amigos que ela já conhecia antes de você, e com quem ela sempre se deu bem. Ela tem amigos a quem ela considera, de quem ela gosta e quer estar por perto. Amigos que ela vai querer convidar no aniversário dela, ou com quem ela vai compartilhar algum meme bobo e zuar quando o time perder. Ela tem amigos, e já os tinha antes de sequer saber que você existia. 

Sim, ela tem um passado. Ela já teve outros relacionamentos antes de te conhecer e, mesmo que viraram passado, em algum momento eles foram bons, tanto que ela os manteve por algum tempo. Talvez alguns tenham sido bons, e terminaram por algum acontecimento da vida que os separou, talvez algum tenha sido um relacionamento tóxico, que tenha deixado nela marcas doloridas. Como foi cada um desses relacionamentos? Talvez ela te diga um dia, talvez ela guarde com ela pra sempre. 

E sim, esse passado dela inclui já ter ficado com outros caras, já ter beijado outras bocas antes da sua. Alguns talvez próximos dela, com quem ela ainda mantenha contato e ainda seja amiga. Outros talvez foram casos de um dia, ou de uma noite. Alguns do Tinder, outros indicados por alguma amiga. Mas ela já ficou com outros caras antes de você.

Ah, é bom lembrar: ela não é virgem - provavelmente. Isso significa que ela já transou com outros caras antes de você. Outros caras já arrancaram a roupa dela e a viram nua antes, e já acariciaram o corpo dela. Outros já a levaram em moteis, na casa de alguém, ou até mesmo transou no carro de outros caras por aí. Alguns outros caras já deram a ela algum prazer antes de você, por menor que tenha sido. Ela já beijou a boca de outro cara enquanto sentava nele, já chupou outras rolas. Sim, ela já esteve na cama com outros caras. Peguei pesado, né? Eu sei. 

Ela vai contar sobre todo esse passado pra você? Não. E por que não? Simplesmente porque ela não precisa contar nada disso pra você. Ela vai levar tudo isso com ela; talvez alguma amiga muito próxima conheça algumas dessas histórias, mas para você ela não vai contar nada disso. Ela não tem que te contar, e você não precisa saber. Passado é passado.

Assim como ela também não vai te contar com detalhes o que se passa no dia a dia dela. Ela não vai te contar se algum colega do trabalho está a fim dela, ou se o cara com quem ela ficou no ano passado pediu para ficar de novo. Ela não vai te falar se o ex mandar mensagem dizendo que está com saudade. Ela não vai te contar nada disso, sabe por que? Porque ela não precisa. Ela é adulta, dona do próprio nariz, e pode lidar com isso sozinha. Você não é o pai dela para atuar por ela. Nem o pai dela deve fazer isso por ela, quanto mais você.

Você vai ter que lidar com tudo isso. 

Por que maturidade é isso: é saber lidar com a bagagem que a outra pessoa trás junto com ela, e apenas a observar carregar, sem precisar ajudá-la a levar, nem muito menos querer abrir para ver o que há lá dentro. A bagagem é dela. Ela vai levar com ela para sempre. Se ela quiser abrir e mostrar para você alguma coisa do que há lá dentro, ótimo. Se ela não quiser, é uma opção dela. E você não pode fazer nada a não ser respeitar essa opção dela. Contente-se em não estar dentro da mala e não ser apenas mais um item da bagagem. 

Vivemos em uma sociedade altamente machista, onde se espera que o homem assuma o papel de controlador da relação, de "homem", de "macho alfa", sob o risco de ser taxado de "frouxo", de "corno" e outros adjetivos horríveis e completamente carregados de um preconceito pesadíssimo. Porém pense de forma muito sincera: é esse papel que você quer exercer? De verdade? Porque esse papel não é nada saudável para ela, muito menos para você. Além de gerar uma ansiedade absurda em você, pode gerar nela um sufocamento que a vai fazer querer - adivinha o que? - buscar coisas novas por aí. E aí você descobre que sua desconfiança é exatamente o gatilho que a faz querer conhecer gente diferente de você.

Entenda o seguinte: você é o momento atual dela, e isso basta para você. Ela deve ter algum ex querendo voltar, e algum amigo pedindo para ficar, mas é com você que ela está. Ela abriu mão dos outros para estar ao seu lado. É a sua boca que ela beija agora. É com você que ela transa. É para você que ela manda mensagens fofinhas dizendo "eu te amo". É com você que ela planeja fazer coisas legais. É as fotos com você que ela posta com legendas românticas. Aprecie isso. Viva o seu momento atual, e o momento atual dela. Se você souber viver o presente e ignorar o passado, provavelmente vocês terão um futuro. 

Correndo o risco de ser repetitivo, você não tem outra escolha a não ser confiar nela. 

"Ah, mas corro o risco de quebrar a cara". Pra não correr esse risco, só estando sozinho. O InMetro ainda não criou nenhuma certificação que diga ser as pessoas são confiáveis ou não. Não existe nenhum ISO que meça isso. Pra descobrir, só se relacionando. E sim, há o risco de ela não respeitar a sua confiança; há o risco de ela ficar com alguém mesmo dizendo que te ama. Há o risco de ela querer matar a saudade de algum ex, enquanto você posta fotos com ela nas suas redes sociais. Mas essa é uma responsabilidade dela. Isso diz muito mais sobre ela e sobre o caráter dela do que sobre você. 

"E se isso acontecer?" Saia fora. Simples assim. Sem escândalo, sem tirar satisfação, sem matar a menina - pelo amor de Jeová. Apenas saia fora. Se ela não soube lidar com sua confiança, outra saberá. Nem toda mulher é filha da puta, assim como nem todo homem é imprestável.

Você não é dono dela. Você não é dono de ninguém. Sequer de você mesmo. Então não sabote sua relação por causa do seu medo bobo e sua insegurança. Não sabote sua vida. Viva as coisas boas que você tem para viver. Viva com ela, mas viva também apesar dela. Você existia antes de a conhecer. Continue vivendo sem tê-la. Não dependa dela. Não a prenda. Quanto mais você prender, mais ela vai fugir de você. Quanto mais você depender dela, menos ela vai depender de você. E aí, o que pode acontecer? Ela vai embora, encontra outro cara que aceite tudo isso e você fica sozinho, perdido nas suas neuras infantis enquanto todos os outros vivem relações bonitas e saudáveis.

Viva para você. Acredite em você. Ela te quis, então algo legal e atraente você tem. Se vocês derem certo, que bom. Se não der certo, valeu a tentativa. Mas confie em você mesmo. Seja você. Se tiver algo para melhorar, melhore hoje. Não porque você não quer perdê-la, mas porque você não quer se perder. 

Confiança e autoconfiança são duas faces da mesma moeda. Quanto mais você confia em você mesmo, mais você vai confiar nos outros. Quanto mais você se respeita, mais você será respeitado.  E isso é lindo. Essa é a beleza da vida. 

Viva isso. Curta isso. 

Estranho | #Reflexão




Essa terra não é a minha
Esse povo não é o meu
Às vezes eu me pergunto:
“O que foi que aconteceu?”

Essa gente é tão estranha
Não entende o que eu falo
Até tento puxar assunto,
Mas desisto e então me calo.

Essa gente acha estranhos
Os costumes que eu tenho
Mas eu só repito os hábitos
Do lugar de onde venho.

Essa gente é esquisita
Se contenta com tão pouco
Se fosse na minha terra
Seriam chamados de loucos

Essa gente se acha rica
Porque tem algum dinheiro
Mas nem sabem que minha terra
Tem riqueza o ano inteiro

As vezes eu me pergunto
"O que foi que aconteceu?"
Essa gente é estranha mesmo
Ou o estranho aqui sou eu?

Igual a Todo Mundo | #Reflexão




As pessoas fazem de tudo para serem diferentes. Mudam visual, adotam um novo estilo, aderem à tribos. Até mesmo os mais “comuns”, os “normaizinhos” batem no peito para exaltar as características, mesmo que poucas, que os difere dos outros. Querem se destacar da multidão. Querem ser vistos com outros olhos, de um jeito especial. Alguns, na tentativa de se destacar dos demais, passam a vociferar palavras de ódio contra uma “sociedade morna”, que “faz tudo igual”. Atacam o “comportamento de boiada” e dizem que só os que são diferentes é que tem sucesso na vida. Querem por toda maneira serem reconhecidos por não serem iguais aos demais. 

Eu não. Eu quero mesmo é ser igual a todo mundo. 

Quero me sentar na mesma mesa de bar que todo mundo senta para beber a mesma cerveja que todo mundo bebe nas sextas-feiras à noite, como todo mundo faz. Quero rir das mesmas piadas sem graça que todo mundo ri. Quero comer os mesmos petiscos que todo mundo come. Quero ver o filme que todo mundo mundo está vendo, no mesmo cinema em que todo mundo costuma ir. Quero ouvir a mesma música que todo mundo ouve, ou pelo menos saber que existe, caso não faça parte do meu gosto musical. Quero usar o estilo de roupa que todo mundo usa, cuidar do visual como todo mundo cuida. Quero fazer os mesmos passeios que todo mundo faz, comer o mesmo lanche de rua que todo mundo come, correr para pegar o ônibus como todo mundo faz e descer correndo a escada rolante para pegar o metrô que já está na plataforma, assim como todo mundo – ou como todo paulistano.

Assim como todo mundo, quero ser aceito do jeito que eu sou. Quero ter perto de mim pessoas para as quais não preciso disfarçar a voz, murchar a barriga, esconder a cicatriz do braço, mudar comportamento, mentir sobre minha posição social nem minha história. Quero pessoas que não me evitem por eu ter uma doença A ou B, por ter uma disfunção X, ou por não ter o tamanho e peso ideal. Assim como todo mundo, quero ter meu grupinho, minha “panelinha”, gente com quem eu possa ficar à vontade, com quem possa baixar a guarda, sem medo de julgamentos e comparações. 

Assim como todo mundo, quero que lembrem de mim. Que meu nome seja citado quando organizarem algo, que se eu não estiver presente me liguem pra avisar “vamos sair, vem com a gente?”, e mesmo se eu declinar insista com um “faz uma forcinha pra vir, vai ser legal”. Quero que minha companhia seja desejada por alguém. Quero que pensem “ele vai gostar disso” quando virem algo qualquer por aí. Quero que digam “ nossa, lembrei de você ontem”, ou “vi uma coisa que é a sua cara”. 

Assim como todo mundo, quero me sentir parte de algo. Me envolver em alguma ação. Ter um compromisso além do trabalho. Algo para me dedicar nas “horas vagas”. Algo mais sério que um hobbie. Quero ser útil em alguma coisa, e ser indispensável em algum lugar, sem o compromisso do cartão de ponto da empresa. Quero que me falem “você fez falta ontem” quando não puder ir. 

Assim como todo mundo, quero alguém para amar. Quero alguém com quem conversar coisas que não converso com o amigo, comentar sobre o cliente bizarro que atendi no trabalho, alguém que fique quando todos os outros se vão. Alguém que faça parte dos meus planos quando penso no meu futuro. Alguém para quem dar o kit de maquiagem que ganhei acidentalmente na promoção da loja, assim como o aconselhado pela atendente: “leva pra namorada”. 

Assim como todo mundo, quero ver as coisas de um jeito mais simples. Encarar a vida sem o peso que muitas vezes nos auto impomos. Quero não ter tantas regras de convivência, e assim ser mais livre para improvisar, marcar coisas fora de hora, experimentar o que nunca me havia permitido. Quero ter a leveza de viver que nos permite ir onde nunca pensaria em ir, falar sobre o que nunca falaria, conviver com quem eu não conviveria. 

Isso é carência? Se sim, assumo que, igual a todo mundo, sou carente. Talvez porque carência seja exatamente isso: essa necessidade inerente ao ser humano de ser igual a todo mundo. 

Diferente? Pra que? Eu quero mesmo é ser igual.

Prêmio de Consolação | #Poesia



"Precisamos conversar", disse à namorada, que assistia Game of Thrones.

"Espera, é o último episódio da temporada", disse a moça sem olhar o rapaz que estava em pé perto da porta.

"Não dá mais. Não tem como continuarmos juntos", disse ele, em pé com os braços cruzados.

"O que?" - disse, desligando a TV.

E ele começou a falar:

"Quando começamos a namorar, eu sabia muito bem o motivo de você estar sozinha: você foi abandonada pelo noivo que resolveu te trocar pela sua amiga, e ainda fez questão de postar no Facebook que havia te trocado. Quando te conheci você era uma mulher magoada, tomada pela dor da traição. Eu me acheguei a você como um amigo, você lembra? Conversei com você, te aconselhei, por várias vezes enxuguei lágrimas suas enquanto dizia que você iria superar essa. Até que um dia, enquanto víamos um filme juntos no meu quarto, nos deixamos levar pelo momento e só demos conta do que havia acontecido na manha seguinte, quando acordei e vi você nua na minha cama e suas roupas no chão, por cima das minhas. O que eu senti quando olhei você dormindo como um anjo foi mais do que culpa por ter transado com a amiga decepcionada. Pelo contrário, a última coisa que senti foi culpa. Naquele momento eu descobri que te amava. Quando te vi dormindo e suspirando como um bebe que acabou de pegar no sono eu tive a certeza de que te amava mais do que eu podia explicar para mim mesmo, mesmo sabendo que pra você eu era apenas o "amigo fofinho" que te ajudou na sua decepção amorosa. Preferi não te dizer nada sobre o que eu sentia, lembra?

Passaram-se os dias e cada vez ficava mais difícil esconder o que eu sentia. Onde eu ia eu via seu rosto, sentia seu perfume, ouvia sua voz. Seu nome estava presente por todo canto. Eu me sentia um completo imbecil apaixonado. Resolvi te falar do que eu sentia, mesmo correndo o risco de ouvir um 'não' e ainda perder sua amizade. Você me disse que sentia muito afeto por mim, mas ainda não havia esquecido seu noivo, que o amava e pensava nele todos os dias. Então eu, num momento de fraqueza, disse que estava disposto a te ajudar a esquecer seu noivo. Você não respondeu, mas o abraço, o beijo e a noite que tivemos (a segunda) foram como um 'eu aceito'. Daí começamos nosso 'romance', se é que posso chamar assim. Contei para todos que conheço que estava namorando a mulher mais incrível da minha vida. Resolvi esconder os fios de cabelo brancos e fiz regime. Até em academia me matriculei, tudo isso motivado pela alegria de ter você como meu amor. E quanto mais eu me dedicava a você, menos eu sentia o retorno da sua parte.

Por várias vezes você me chamou pelo nome do ex-noivo. Em algumas você se corrigiu, em outras talvez nem tenha percebido. Eu perdoei, já que estávamos no começo e você ainda não havia se recuperado totalmente do relacionamento anterior. Em todas as nossas conversas você citava algo sobre ele. E se desculpava, dizendo que estava se esforçando para me amar do jeito que eu merecia. O tempo passou - um ano, diga-se de passagem - e eu me entreguei por completo. Mas você ainda me chama pelo nome do ex. Ainda fala nele. Ainda tenta me fazer gostar das músicas que ele gostava. Já se passaram um ano e você ainda não o esqueceu.

Então eu decidi que não dá mais. Sim, talvez você tenha se esforçado, mas você não o esquece, e eu não quero ser seu prêmio de consolação, não quero ser um trofeu de vice-campeão. Se depois de um ano você ainda não se convenceu de que seu ex não te quer mais e não consegue levar a vida em frente, sinto dizer mas não posso esperar mais.  Ou eu tenho você por completa, corpo, alma e coração, ou prefiro não ter nada. Se é pra sofrer, prefiro sofrer sozinho do que com uma mulher que não me ama por completo".

Tendo tido isso, abriu a porta e saiu. Ligou o carro e foi embora. Ela o olhou pela janela, ciente de que aquela seria a última vez que o veria novamente. Foi bom enquanto durou ter o Carlos por perto.

Aliás, Carlos não. Carlos é o nome do ex.